quarta-feira, 30 de abril de 2008

Porta giratória


Toda vez que passo pela porta giratória do banco me lembro da loira do mezanino. Parece pequena, mas de corpo bem cuidado. Hoje vi que não é casada. Gato vira-lata tem medo de casa ocupada. Pelo menos não usa aliança. Sento numa posição que posso ver a copa de sua cabeça loira. Às vezes ela levanta em busca de algum documento, informação sabe lá. Ai posso acariciar seu corpo com meu olhar curioso. Ta em forma a garota, baum tamém.

O tempo passa e como sempre a caixa chama:
- Vicente Paulo

São quase vinte esperando, de senha branca na mão, girar sua vez. E eu espichando o pescoço pra loira do mezanino. Platonicamente esperando minha vez.

terça-feira, 29 de abril de 2008

De Bamba na fila da Caixa


De perna cruzada senti formiguinhas andando pelas pernas, dentro das veias. Danadinhas nadando e pululando dentro do meu sangue. Olho pro meu Bamba. Comprei num lugar chamado BRICBRAC, aqui em Sabará. Modelo antigo. Acho que num fabrica mais, um achado.

Ouço o murmurinho. Caixa chamando: - Gladson Henrique!?
Tossem, chiam, alguns até miam.

Tênis dos anos 70. Ele é legal, lembra o All Star. Tão confortável quanto. Na época tinha tamém o kichut, preto com travas, que davam tombo quando novas. Esse agente usava pra jogar bola, bater pique. O outro pra ir pra escola, tamém dava pra jogar bola, vôlei, até basquete. O meu é preto, tinha branco, todo branco. De lona preta e borracha vulcanizada. Acho que isso não tem nada haver com vulcão, mas tem haver com calor pra prensar a borracha. Borracha de seringueira, não de petróleo.

Ainda na fila...

- Quantas pessoas têm nesse banco? - Tsi! - Começou que dia? - Oi, psiu, pode ir lá? - Vai ter dia que você vai ter vontade de arrancar o olho. - Pode deixar! - Melhoras, viu! Cada coisa que agente ouve se ficar prestando atenção.
- Célia Barros!?

Num é que o velho Bamba já era um produto sustentável. Feito de lona e borracha. Ilhós de alumínio. Tudo reciclável. Modelo dos anos 70 ensinava já agente a produzir artigos sustentáveis. E agente nem ligava pra esse papo.

- Há é! - Hei ta boa? - Marcando quatro e pouco. - Pensei que era três. - Fabrício da Silva!? No meu celular são 15h50min. - Faltam dez pras quatro.
- Acabou o horário de almoço! - É, mas agente tem que ter paciência! - Perde tempo, mas recupera.
– Leonardo Garcia!?

Agente queria é ter um All Star, um kichut. Agente só não queria ter uma Conga. Muito mole e chinfrim. Feito uma sapatilha. A mulherada até gostava. Hoje elas voltaram a usar a Conga, várias cores.

O tempo vai passando minha vez não chega...

Todos têm cara de impaciência. Fazer o que é uma fila de banco. Caixa Econômica Federal. O quê que esse nome quer dizer na verdade? Cofre do Lula? Pelo menos estamos sentados. Chamam:
- Raimundo Caetano.

Até o velho Bamba reciclou seu design. Parece mais hoje com o seu rival All Star. Bamba. Esse nome é um achado. Num sei de onde veio não. Vou pesquisar e escrevo aqui. Acho que tem haver com uma gíria da época. Bamba, mora?

- Ta ocupado? - Ta pra receber ou pra aceitar? - Hoje é vinte e sete.
- Paulo Henrique!? Minha vez não chega.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O casamento da Mula extraterrestre sem cabeça com o Lobisomem urbano.

Sabará tem muitas igrejas históricas. Conheci a igreja da matriz, linda com seu altar principal todo coberto de folhas de ouro, sendo restaurada. Tenho que conhecer as outras. Mercês, de São Francisco, do Rosário. Mas na verdade isso não vem ao caso agora.

Preciso mesmo é falar sobre o que ando vivendo aqui nas Minas Gerais depois que me pra Sabará. Nada de extraordinário. De certa forma eu tenho certa rotina por aqui. Entre trabalho, algumas idas a BH pras baladas e viagens.

Falando em viagens fui a Diamantina pela primeira vez na vida, neste último feriado, viva a Paixão de Cristo. Num sei como não fui antes pra lá. Coisas que passam batido em nossas vidas durante anos seguidos. Engraçado como o tempo passa e não vivemos tudo que precisamos, ou que desejamos. Sorte ou destino ou oportunidades. Lugar bacana e mágico. Dizem que por lá aparecem ET’s. Disse pro meu primo-irmão Rogério Peter-eco, que me levou pra lá. – Se existe ET eu quero ver, se possível ser abduzido. Claro desde que me garantam a passagem de volta. Nem que não me lembre de nada haverá uma experiência gravada em meus genes ou na memória virtual. Satisfaria-me em vê-los de longe. Há claro, o mundo seria diferente depois disso, bem diferente, claro! Seria claro! Sim claro! Tudo esclarecido. Eu vi cara, eu vi! É podes crer! Mas num foi dessa vez.

Fiz muita coisa por lá além de comer o dia inteiro. Biscoito, carne, biscoito, leite, café, carne, biscoito, laranja serra d’água, arroz, feijão, macarrão. Assisti mais uma vez A Paixão de Cristo de Mel Gibson. Dessa vez não chorei, tinha muita gente na sala. Andei a cavalo. O danado não tinha nome. Já viu isso. Meu tio Carvalho não colocou nome no animal. Cavalo sem nome.

Cheguamos à quinta em Diamantina. Fomos pra balada eu e Rogério Peter-eco. Começamos a tomar as primeiras ai nessa praça da foto acima. Falamo pa calai e não fiquemo com ninguém!
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Fomo sexta-feira pra fazenda. Arriaram o cavalo sem nome no sábado pra eu andar. Peter-eco foi de bike. Fomo indo até as primeiras mãozadas do animal no solo cristalizado das diamantinas, tudo certo. Um cavalo mestiço, pardo-claro ou moreno ou meio louro-médio. A mulherada é que entende esse negócio de pêlo=cabelo.
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Depois de empacar três vezes, a primeira o Peter-eco teve que intervir com um galho de arvore, batizei o animal: Marrento. Meio marrom, meio invocado. Marrento - baixinho e invocado. Como o homem-mil gols. Eu e Marrento do meio pra frente e no final da tropeada nos entendemos. Não antes de ele me deixar pra trás num mata-burro. Apeei pra abrir a porteira-cerca do lado do mata-burro, que no caso iria matar um cavalo teimoso. Larguei a rédia e o bicho seguiu estrada, celado sem cavaleiro, no caso eu. Corri uns 10 minutos atrás do animal, até o bicho da uma chance e parar pra eu remonta-lo. Quase pago o mico ruminante e chego à sede da fazenda a pé e o Marrento na frente me zoando. Me deu uma chance e montei. Logo em seguida outro mata-burro. Dessa vez me precavi e não soltei a rédia, hahaaaa! Montei de novo e fiz uma chegada triunfante, num galope quase totalmente controlado.
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Resultado da tropeada com destino ao Rio Preto: bunda literalmente esfolada na parte superior do rego superior do cúânus. No outro dia parecia que tinha levado uma surra de corpo inteiro, como Jesus no açoite do filme de Mel Gibson.
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Doía das panturrilhas ao pescoço. Dor interna, nos músculos, como se tivessem me passado no engenho de cana-de-açúcar.
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Também bebemos muita garapa das canas do pomar da fazenda.
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Caraca! O Marrento me esfolou, me torceu e moeu. Esse foi meu encontro extraterrestre. Pois estava fora da terra, montado.
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Outras coisas aconteceram lá na princesinha do Alto Jequitinhonha. Mais, muito mais...

Êeee Diamantina da febre dos diamantes.
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Lugar único e acolhedor de pessoas de corações brilhantes.
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Conto depois das experiências com as pessoas de lá.
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Gente, moço, demais da conta.
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Depois da ultma noite

De festa

Chorando e esperando

Amanhecer, amanhecer...

Depois da ultima noite

De chuva, chorando e esperando

Amanhecer, amanhecer...

Nenhum de nós.